A influência do Estresse Térmico na realidade brasileira

Quando o corpo não consegue perder calor o suficiente para manter uma temperatura interna constante, chamamos isso de estresse térmico. Este fenômeno é comum no Brasil pelo clima tropical, e pode afetar bastante os animais. Como este fato atrapalha a produtividade do animal, é importante estudar e tentar reverter esta situação.

Confira abaixo um estudo feito sobre o estresse térmico nas vacas leiteiras. 

INTRODUÇÃO

Para nós que vivemos no Brasil não é novidade alguma dizer que o clima tropical onde vivemos traz muitos benefícios para o dia a dia, mas ao mesmo tempo, é bastante desafiador principalmente para as vacas leiteiras. Pelo segundo ano seguido, a Elanco vem contribuindo com a atividade leiteira, com serviços e soluções focadas no levantamento e combate do Estresse Térmico. Continuamos a sequência do trabalho do verão passado, com mais detalhes e testando algumas mudanças de manejo, visando rápida solução e benefícios para as fazendas.

TRABALHO

Foram escolhidas 6 fazendas com vacas estabuladas em free-stall na região Sudoeste de Minas Gerais que tivessem pelo menos ventiladores como ferramenta de combate ao Estresse Térmico. Em cada fazenda, colocaram-se termômetros intravaginais nas vacas por um período de 10 dias, registrando-se as temperaturas corporais a cada 5 minutos; no mesmo período, termômetros de ambiente registraram a temperatura e umidade ambiente, também a cada 5 minutos. Foram feitas análises em vacas em lactação e no pré-parto, devido à importância deste grupo de animais para o futuro da fazenda.

No período de avaliação dos dados, o tempo de funcionamento do sistema de resfriamento foi maximizado, funcionando mais horas por dia, para podermos fazer avaliações importantes para a tomada de decisões.

OBJETIVO

Avaliar a relação do Estresse Térmico com algumas variáveis que têm total influência na saúde e produtividade dos animais com impacto financeiro dentro da fazenda, tais como: temperatura corporal e nível do Estresse Térmico, frequência respiratória, número de horas do dia em que as vacas permaneceram com temperatura corporal acima de 39,1ºC (considerado o limiar para entrar em estresse térmico) e a relação com a % de gordura do leite.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O gráfico 1 mostra os dados de temperatura dos animais (linha preta) e do ambiente (linha verde) e a umidade (linha azul) registrada durante os 10 dias do levantamento. O número em vermelho, abaixo da imagem dos ventiladores, mostra o tempo que os ventiladores funcionaram durante o teste, mostrando que maximizamos o funcionamento deles nos dias 3 e 5 após o início do trabalho. Mesmo com a temperatura ambiente abaixo de 30°C (variou entre 18 e 27°C), houve períodos de chuva que mantiveram a umidade do ar bastante alta (acima de 60%) e mesmo assim, a temperatura dos animais no início do trabalho mostrou que eles estavam em Estresse Térmico ou acima de 39,1°C (linha amarela). Com o aumento do tempo de funcionamento dos ventiladores, a temperatura dos animais diminuiu, saindo de 39,3°C para 38,9°C, mostrando a importância da ventilação na troca de ar do ambiente e minimizando a carga térmica sobre os animais, fazendo com que eles saíssem a zona de Estresse Térmico.

Analisamos também os lotes do Pré-parto (em torno de 30 dias antes do parto). O gráfico 2 mostra o resultado de uma das fazendas: como todas as outras, o resultado nos fez acender a luz vermelha da atenção, já que a maior parte do tempo a temperatura das vacas (linha preta) ficou acima de 39,1°C (a linha amarela). Todos sabem que o Pré-parto é o grupo mais importante da fazenda e que, se cuidarmos devidamente dos animais deste lote, a lactação futura está garantida, mas o que vimos neste trabalho nos chamou a atenção. 100% dos lotes analisados estavam em Estresse Térmico, sendo que, em duas das fazendas, a temperatura média do Pré-parto foi a maior da fazenda.

Existem diversos trabalhos mostrando os benefícios do resfriamento das vacas do pré-parto durante toda a lactação. Amaral et al 2009 mostraram que o resfriamento durante este período minimizou a queda de consumo de matéria seca no periparto e esses animais produziram até 5kg/dia de leite a mais que vacas não resfriadas. Dubois e William 1980 mostraram que o índice de retenção de placenta pode dobrar e o período de gestação e  peso dos bezerros será menor se as vacas estiverem em Estresse Térmico.

É cada vez mais frequente a cobrança dos laticínios pelos sólidos do leite, com possíveis bonificações se alcançado um patamar pré-determinado. Sabemos que vacas com carga térmica aumentada podem ter sua saúde ruminal prejudicada, o que pode levar a acidose e consequente diminuição da % de gordura no leite. Por isso, durante nosso período de trabalho coletamos leite em três dias para verificar a relação entre o Estresse Térmico e a % de gordura no leite das vacas. A figura 1 foi o padrão encontrado na maioria dos lotes analisados dentre as seis fazendas, no qual a % da gordura aumentou à medida que o número de horas que as vacas passaram em Estresse Térmico diminuiu.
O mesmo clima com fartas chuvas e altas temperaturas que é perfeito para a agricultura produzir altas quantidades de grãos e alimentos de altíssima qualidade para as vacas de leite, também traz altos desafios em relação ao Estresse Térmico, contudo existem tecnologias e soluções disponíveis para minimizar esses efeitos negativos. Este levantamento nos mostrou que muitas vezes, apenas maximizando as ferramentas que já estão “dentro de casa” é possível corrigir, ou minimizar os problemas que têm alto impacto ao dia a dia das fazendas.

Este trabalho nos deixa algumas mensagens importantes que devemos sempre levar
em consideração nas nossas ações:
– Aumentar os cuidados com o Pré-parto para aumentar o leite e a saúde das vacas
na lactação seguinte;

–  Precisamos garantir que as vacas estão se resfriando:

– Automatizar o equipamento. Os funcionários estão ligando e desligando os aspersores e ventiladores no horário/temperatura correta?

– Instalar aspersores e ventiladores juntos, funcionando em ciclos!

– Está chegando a quantidade correta de vento nas vacas (aproximadamente 10 km/h de vento)?

– Os aspersores estão jogando a quantidade correta de água nas vacas em todos os ciclos (em torno de 1 litro de água/vaca/ciclo)?
– Atenção especial à relação do Estresse Térmico e a % de gordura do leite,  uma área que prestamos (ou melhor, prestávamos) menos atenção.
Agradecimento aos alunos da Conapec Jr. (Unesp – Botucatu).

Nelson Ferreira Jr.
Gerente Técnico-Bovinos de Leite
Elanco Saúde Animal.

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